Na última terça-feira (25), Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, o Espaço Ciência e Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco, realizaram uma roda de conversa intitulada “E eu, não sou uma cientista: Diálogos sobre Tecnologia, Gênero e Raça”. A ocasião contou com transmissão ao vivo, teve início às 14h, no auditório da (Secti/PE) e marcou a abertura da ação Preta Cientista, realizada pelo Museu Interativo de Ciência de Pernambuco.
“É um momento em que a gente dá atenção para questões que, olhando para o histórico institucional, não se tem isso tão evidenciado. O museu tem a missão de difundir a ciência e integrar conhecimentos, então é importante ter uma equipe que atenda às questões de representatividade e ser um equipamento que também foque nas questões de diversidade, para a gente conseguir dar a visibilidade necessária que cada elemento merece”, ressaltou Manoela Lima, gestora do Espaço Ciência.
A roda de conversa mediada por Lenne Ferreira, jornalista e produtora no Espaço Ciência, teve como principal objetivo abrir a discussão sobre a importância de promover o reconhecimento e garantir maior inserção de mulheres negras no campo da Ciência e Tecnologia.
Participaram da roda de conversa: Gabriella Barros, analista de inovação e coordenadora do Programa de equidade de gênero do Porto Digital; Luana Maria, travesti e fundadora do Pajubá Tech; Ana Cláudia Santos, Museóloga e Doutora em CI, atualmente gestora de Tecnologia da Informação e Comunicação da Diretoria de Ciência e Difusão Científica da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Na ocasião estiveram presentes representantes da Secti/PE, TJPE e UFPE. Além de Juliana Gouveia, Secretária Executiva da Secretaria da Mulher de Pernambuco, que destacou a necessidade de fortalecer a mulher negra na sociedade: “A gestão Raquel Lyra é uma gestão que busca trabalhar de forma integrada a pauta das mulheres, que precisa estar presente em todas as secretarias. Diante da diversidade que temos, há a necessidade de exercitar também o que as mulheres negras conhecem, que é a dororidade, que vai além da sororidade. A Secretaria da Mulher está pautada para fortalecer cada vez mais o enfrentamento a violência contra a mulher, junto com as demais secretarias para que possamos avançar para todas as mulheres.”
Rica troca de ideias
Durante a roda de conversa, as três convidadas contaram sobre suas trajetórias de vida, compartilharam ideias e reflexões sobre desafios relacionados a gênero e cor.
Na ocasião, Ana Cláudia Santos, atual gestora de Tecnologia da Informação e Comunicação da Diretoria de Ciência e Difusão Científica da Secti/PE, e também professora idealizadora e coordenadora do projeto de extensão AuCIlia; destacou as dificuldades encontradas pelas pessoas pretas no campo acadêmico:
“A universidade é sim um espaço de adoecimento e de opressões e é preciso desenvolver pesquisas sobre os aspectos emocionais das pessoas pretas. Os pesquisadores e pesquisadoras de todo o mundo estão sofrendo mais discriminação, ansiedade e depressão. O sistema universitário de maneira geral está adoecido. Precisamos de uma mudança institucional, menos produtivista e com a discussão sobre o estresse e autocuidado para toda a comunidade universitária. Tanto professores quanto alunos.”
Já Gabriella Barros, analista de inovação e coordenadora do M.I.N.A.S, Programa de equidade de gênero do Porto Digital, ressaltou o empreendedorismo preto e feminino:
“É importante que as mulheres procurem saber e entendam mais sobre os seus negócios, desde como construir a como garantir uma gestão financeira muito bem coesa. E a gente sabe que o empreendedorismo não é algo novo e que ele nasceu a partir das mulheres pretas, que faziam isso desde sempre para cuidar das crias, muitas vezes sozinhas, e para sobreviver. E é muito interessante também ver como as mulheres pretas são tecnológicas há muito tempo, mas quando a gente olha os números, menos de 30% dessas mulheres são reconhecidas como cientistas no Brasil.”
Luana Maria, travesti e fundadora do Pajubá Tech, falou sobre a necessidade de oportunidades de capacitação para pessoas trans e travestis:
“A tecnologia e educação transformaram a minha vida e podem transformar a de outras pessoas. Porém, noventa por cento da população trans recorre à prostituição e isso por falta de oportunidades de trabalho. Em paralelo a isso a gente tem a violência e a expectativa de vida de mulheres trans e travestis no Brasil é de 35 anos e essa é a realidade fatal. Na perspectiva do ensino médio, 80% das mulheres trans e travestis abandonam o ensino médio entre 14 e 18 anos. Ou seja, essa juventude trans, essas mulheres trans e travestis não terminam o ensino médio.”